quinta-feira, 7 de maio de 2015

Meu Vovô Othon

Muitos  me perguntam como era Othon da Gama Lobo d’Eca, meu avô na intimidade???
Eu só conheci um Othon :o meu avô! O meu amado Vovô.

Pensem em um sujeito magro, longilínio, alto, de nariz grande, boca carnuda, careca e com alguns fios que sobravam bem pretos, amoroso, louco por animais, leitor voraz, uma letra horrorosa, pianista que emocionava, um apaixonado por porcelanas, muito conversador, escritor, professor. juiz de direito, chefe de policia, Secretario de Estado, artista, pintor, visionário, idealista e muito inteligente mais acima de tudo isso:amante a sua família. Este era meu Avô.

Lembro que quando ele chegava  em casa todos os espaços eram  preenchidos, a música vibrava, sua voz ecoava feliz, os bichinhos piavam e a casa ficava iluminada.
Sua casa estava sempre cheia, com seus filhos e netos e amigos e conhecidos. Sua voz forte e melodiosa fazia o barulho que queriamos escutar: brincando e contando coisas. Sempre o esperavámos escondidos na copa, daquela casa (que me parecia enoooorme...coisa de criança...) porque sabíamos que sempre vinha junto, no seu bolso esquerdo da calça, escondido pelo paleto jaquetão, aquelas bengalas doces e coloridas...vibrávamos.
Nossas mães ficavam brabas... “-Papai: Olha os dentes da meninada!!!!!”e ele dava risadas e gostosamente se encaminhava para a escada, na parte traseira da casa e lá seguiamos juntos, dando risadinhas e abraçandos as suas pernas para  irmos ao seu viveiro.
Neste caminho as bengalas saltavam de seu bolso e nós as atacavamos....Ainda sinto aquela doçura toda em meus labios e as mãos todas meladas.Que deleite!
O viveiro era seu lazer em casa. A época não haviam impedimentos em se ter animais aprisionados e ele os tinha num grande viveiro.Será que era grande? Ou eu que era pequena???  Mas lembro que lá dentro tinham tucanos, papagaios e periquitos lindinhos, saracuras,sabias, duas garças lindas,outros pássaros que não lembro seus nomes.Tinha vida aquele lugar...
Quando ele entrava no viveiro os animais pareciam que o identificavam. Piavam, trinavam, usavam sua linguaguem para saudá-lo e ele se divertia. 
De longe, sempre observando-o ficava o Faisca, um vira lata cinzento que trazia alegria a todos e se encantava com suas grandes mãos que o acariciavam.
Lembro ainda que, a Vovó ficava muito braba porque o Vô Othon sentava á cabeceira da mesa, na copa, para tomar café da manhã ou lanche e tirando o miolo do pão, fazia bolinhas e de lá as lançava para o viveiro.Sempre acertava. As crianças ficavam admiradas... os pássaros gostavam bastante.Numa irreverencia total!
Como criança era isso que eu gostava e me divertia e hoje recordo bem.
Conhecemos outras historias que a mãe nos contava, a Vó Hilda também,pois quando ele se foi eu ainda era uma menia.Contavam que haviam  os saraus no Palácio do Governo em que o Vô tocava piano e a Vó cantava. Dizem que ela era uma cantora especial.E eu acredito.
Até hoje, quando escuto o Nocturno de Choppin, eu me transporto para a porta da sala de música, pois era ali, sentada, ao anoitecer, que eu gostava de escutar meu Avô tocar em seu piano esta bela musica. Tinham muitas outras,porem esta me fascinava e hoje me emociona.Ainda me emociona ouvi-la, sempre e em qualquer lugar.
Seu gabinete era território proibido na casa, em tese, porque todos os netos ali transitavam e ganhavam papéis para escrever e podiam contar os inúmeros livros nas estantes.Seu local de trabalho seduzia a netarada.Ali tinham belos quadros, duas poltronas de couro marrom escura, muito confortáveis de sentar e deliciosas de pular.O lugar perfeito para se sentir sua respiração, seu carinho e viver com ele, nosso amado vovô.
Enfim ,como era meu Avô OTHON? 
Um avô dedicado,amoroso,bagunceiro,tagarela que contava historinhas intrigantes e sensacionais. Fazia versos para nós que ate hoje me lembro." Bem ao pé da parreirinha que o vento sul derrubou, havia uma roseirinha que o frio de julho matou"...e muitos outros.
Um avô de verdade;
Que saudades!